Em seu segundo livro de poemas com publicação pela editora Patuá, o escritor e jornalista piauiense Hermes Coêlho se destaca por uma escrita densa e de amplitude dramática.
Abarcando a trajetória de formação de um homem desde a sua infância, Violado é uma obra multifacetada que explora essencialmente dor e desejo dentro da linguagem poética, em que o eu-lírico, como é repetido ao longo dos textos, sempre insurge nu.
Esta nudez será explorada não apenas sob a luz da sexualidade – esta, aliás, sendo um eixo importante à poética construída por Coêlho – mas também pela percepção e pelos sentidos, como se observa nos trechos de muitos poemas (todos sem título e divididos em seis capítulos):
“foi dessa forma insuspeita que o menino aprendeu
amargo é sabor ensinado”
(no capítulo “Violado”)
“gosto de me banhar de aroma”
(no capítulo “Cerne”)
“tingir de tinto o meu amor”
“da pétala ao petardo”
(no capítulo “Entranhas”)
Nesse sentido, é possível adentrar uma atmosfera de intimidade, que nos é oferecida pelo eu-lírico não apenas de forma visceral, mas densa em sua construção imagética. Como apontado no prefácio pelo escritor Adriano Lobão Aragão, há uma preocupação metalinguística latente, que reflete sobre o ofício poético. Isto se observa pelo fato do eu-lírico de Coêlho, embora parta de eventos como o abuso infantil e o desejo homoerótico, sempre se apresentar ao leitor enquanto poeta:
“não me pergunte amigo se desse encontro sai poema
depois de fazer poesia comigo”
“como você quer que eu escreva
quando sou o papel e você a caneta?”
(no capítulo “Entranhas”)
Ao mesmo tempo, a força das imagens e da escrita do autor também remetem ao gênero dramático, com poemas mais extensos e vertiginosos cuja cadência marca sua carga emocional, convocando o leitor a não apenas ler, mas encenar os textos em voz alta.
Trata-se, portanto, de uma experiência de leitura que desloca o leitor de um papel passivo, colocando-o enquanto participante, personagem ou confidente. Violado é uma obra que exige estar disposto ao impacto ou, usando as palavras do próprio autor, estar tão nu quanto ele próprio.