Marina Grandolpho nasceu em Catanduva, SP, e atualmente vive em Campinas, também SP. Formada em Letras pela UFSCar e doutora em Estudos Literários pela Unesp, é professora e escritora, além de mãe e feminista. Possui textos publicados em revistas/portais literários e em sua newsletter. Em 2022, publicou a zine independente Por debaixo da carne sou palavra e, recentemente, publicou maquinário feminino e outras conversas (Ed. Patuá), seu livro de estreia.
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DESATINO
ela queria ser uma mulher
inteira
e
s o l a r
mas só lhe destinavam
es-ti-lha-ço
e sombra
DESPETALADA
ontem me contaram a história
de uma mulher despedaçada
por um homem
que a partiu
por um filho
que pariu
por um deus
que se omitiu
ninguém sequer ouviu
as suas preces
recolheu os seus cacos
resolveu o seu caso
revolveu o seu caos
resignada,
desfez-se no chão
pétala
por
pétala
e enfeitou
o choro
incontido
que agora
rolava
pela
face
VASO QUEBRADO
o dia que você esbarrou
no vaso da minha sala de estar
nem sequer olhou a porcelana
estilhaçada no chão
a peça colidiu com o
assoalho e se espatifou
você ficou ali parado,
olhando como se a cena
não lhe coubesse
resignada, juntei
caco
por
caco
e me mantive calada,
apenas fitando
os seus olhos
não soube o que dizer
daquela vez
mas agora sei:
gosto de quem limpa os cacos
daquilo que quebra,
cortando os dedos
nos pedaços pontiagudos
— se for o caso.
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