Skip to content

*Todos os poemas pertencem ao livro “verbo primordial:”, em coautoria de Guilherme Jacobsen e Vitória Vozniak, publicado pela editora Patuá em novembro de 2023.

astigmatismo no natal

desculpa a demora
ando sem pressa
abro meu diário
folheio os dias

é bom manter as dores vivas

penso na lua que não vejo
da janela olíbano puro no ar
uma rajada de vento na cortina

te pergunto mais uma vez
por que usamos abismos como cartões postais?

pistilo

rejeitar a fecundação
espirrar ao menor sinal de pólen

adiante da quarta elegia
fundar o clube excepcional
de observação das folhas

sondar à procura das pequenas
criaturas lamber o latim tornar vivo
o saber das cores das curvas das línguas

me amar
até quando
eu não puder
me cuidar
enfeitiçar o próprio corpo
rir sem vontade
até liberar ocitocina

doomsday clock

gostava muito daquele filme coreano
com relógios não me lembro bem o nome
pois quando submersa voltei rápido
demais e me formaram bolhas no sangue
é que tenho medo de segurar a respiração
por tempo demais e se for pra morrer
de excessos que não seja de nitrogênio
aliás sabia que não é a falta de oxigênio
se bem que vida demais é sempre um
horror mesmo que na vastidão do oceano
se possa viver para sempre como uma
água-viva quem sabe como isso é pois se
o tempo é relativo talvez a infinidade seja
uma chatice e terá que se flutuar presa ao corpo
da água pois a verdade é que o mar é um grande
afluxo de matéria orgânica sem qualquer noção
de privacidade e me passa um arrepio pela pele
arroxeada ao pensar até um ser majestoso como
uma baleia jubarte não tem a garantia de um
enterro pois também né que engraçado seria o
tamanho do caixão onde já se viu tanta árvore pra
um moribundo e pensando bem ser cremado solta
tanta fuligem no ar e quem me garante que não
se respiram pessoas como aqui minha carne irá
oscilar até uma boca qualquer.

coisas pesadas tendem ao infinito

tudo que vivi,
invariavelmente,
teve logo após o seu auge o declínio
como se estivessem ligados o alto
com a queda nunca vivi
uma estável felicidade.

Vitória Vozniak possui mestrado em Letras – Escrita Criativa com pós-graduação em Produção Editorial. É revisora de romances na 7Letras. Na editora Jambô, é preparadora de livros-jogos e romances dos universos de RPG como Tormenta e D&D. É editora da Eita! Magazine. Ganhou 1º lugar no Concurso de Microcontos de Terror da editora Suma (2022). Autora de “nos beats do coração de um musaranho” (7Letras) e “verbo primordial:” (Patuá).

Conheça a com.tato

Conheça a com.tato

Pular para o conteúdo