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Antropocentro

Fingindo ser altruísta
ele criou uma máquina
para engaiolar a lua
alimentá-la com estrelas
moídas.

A lua
alimentada
presa
esquece-se das marés.

O homem é a origem de todos os males
e o fim de todos os mares.

Insônia

Há um par de olhos
em cada porta aberta

cupins com asas de libélulas
são atraídos pela luz solitária:
uma vela no quarto vácuo

é compulsório
fechar as portas
e velar os olhos.

Mortalha

De dia, malhas,
de noite, falhas.
Ana Martins Marques

1.
na sombra,
a mão movimenta a caneta
refletida ao avesso
sem cor como qualquer sombra
escrevo em escala de cinzas.

2.
tudo o que escrevo é retalho
a escrita é rebotalho
o esforço, espantalho.
pensar demais não serve mais
para quase nada.

3.
homero teceu demais
o fio do novelo deve ser finito
nem que a gente corte à navalha.

juliana C. alvernaz (1993) é natural de Rio Bonito, RJ. É professora de Literaturas e possui mestrado (UFF) e doutorado em Estudos de Literatura (PUC-Rio). É filha de Ana cabeleireira e Admilson do açougue. É feminista e milita por uma educação pluridiversa e descolonizadora. Desde março de 2022, reside em Tangará da Serra, MT, onde se dedica à pesquisa de narrativas angolanas e à leitura, à escrita e ao ensino de poesia

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