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Está nos quartos de parede que fracionam a abstração das faculdades mentais em cômodos de apartamento. Nas fronteiras, regras, barreiras e figurados de concreto-factoide, fabricados pelos úteros masculinos de plutônio. A última limitação humana é como um silêncio estridente berrando, indignado com o sumiço do choro e com a incapacidade da fluidez. Ocorre quando todo livro, grão ou fibra naturais são o combustível das chamas do caos e não há alimento, água, musculatura ou samba para o esboço de um sorriso. 

Um oceano sem lua padece da ausência de estabilidade e serenidade das suas marés. Sem astros, escova as areias com a força de um tsunami. A humanidade, sem os aparatos da lógica e do conhecimento, assim também funciona; de tal forma, torna-se laboratório extremista do desequilíbrio – entre a imobilidade e o caos. Quando a escassez e o progresso protestam de mãos dadas – tão entrelaçadas que sangue e lágrima coagulam na nascente das pálpebras – o coração pulsa rumo ao mar da indigência: motriz das usinas de guerra. 

É impossível haver equilíbrio quando há falta; e o soluço do pranto do Homem desidratado é tão seco quanto os rios que quer salvar. No mundo do lucro, o saber é em dólar e a sua finalidade é contraditória, obtusa e insuperável. A estimulação desencontrada e sem objetivo plausível gera inflamação no cérebro, mente e alma; faz adoecer. A fé no destino e na mobilidade autônoma mantém os nossos cintos desfivelados; estes, à espera de um milagre que justifique a sua existência. O trovão que escutamos nas atmosferas de asfalto é sentida pelos nossos mecanismos de percepção, verdadeiríssima em sua captação. O motorista egóico compreende o valor das fivelas a partir dos destroços; valoriza a vida a partir da morte.

O medo do fim é o medo da ausência; como da voz de um recém nascido, do qual esperamos a choradeira. É, por isso, o medo da extinção das capacidades sensoriais. O sentido da vida já está posto, e presente na própria sentença de quem ensaia similar questionamento; é a existência, por si só, dos sentidos e dos fenômenos, costurados pela percepção. Por isso, é sempre a incerteza dos significados que é velada nos caixões, veículos sem direção, encarregados de completar uma corrida sem destino, sem sentido. A morte é a certeza do fim da capacidade criativa.

Questionar é consequência da necessidade de mudança. A busca por conhecimento é intrínseca à sobrevivência. Para criar, perpetuar e sobreviver, é preciso conhecer. A informação é a vítima da curiosidade pelo que está por vir; pelo que há no quintal do vizinho, no império ao lado, na aldeia mais próxima; sempre além do horizonte – nunca agora, aqui. 

Deus não existe e a poesia também não.

Informar é ato essencial para a sobrevivência e é uma das responsabilidades do mundo natural. Tudo nos informa, porque tudo está aqui. As cores, os sons, árvores e letras. Os sentidos buscam os segredos do mundo e a mente os decifra para transformar em matéria, também encefálica, o desenvolvimento do Homem – maiúsculo ou não. 

Os seres inteligentes, em sua imposta condição de desinformados, nunca aprenderão a ler a realidade sem os estímulos devidos. Menos ainda, o humano aprenderá a compreender o próximo, já que o silêncio governa a interpessoalidade. Ninguém se entende, nem sabe chorar.

Existe lugar e hora para tudo no mundo adulto dos tabus, menos para a despressurização das contenções. Na usina da vergonha, água não escoa; quando finalmente livre, jorra.

Se possível uma revolução, será a da Natureza, reivindicando o ar do último suspiro dos seus autoproclamados senhores e patrões. Estes, falharam em entender o sentido da vida – agora terrível e primordialmente humana, suscetíveis aos destemperos que habitam os acidentes neurológicos da (des)consciência – também conhecida como burrice.

Homem não chora.

Questiono agora, aqui, a existência e permanência das estruturas artificiais rígidas e opacas, que têm vida própria. São mais do mesmo: a materialização da incapacidade do ser humano de compreender tudo; e que, por isso, delega a um muro ou à ABNT as funções próprias de suas incompreensões. Enquanto produto da estruturação do desconhecimento delegado; as fronteiras, a língua, a religião, a arte e os robôs têm o mesmo peso e significado quando tratados como vivos. E nós – humanos, criadores – estamos seguindo bonitinho a pulsão de morte, em uníssono.

Obviamente, o sentido da vida é viver. Para viver é necessário sobreviver. E para sobreviver, é necessária a absorção de informação – nutrientes, cores, sons ou todo tipo de partícula subatômica. 

O Homem-menino adulto precisa crer na existência de um só criador – detentor de toda a sabedoria acerca do que simplesmente existe – para dar sentido a sua incapacidade de compreender o óbvio através dos próprios olhos, ouvido, boca e nariz. Ou, talvez, o meninão precise fazer uso de algum vocabulário elegante freud-lacaniano para demonstrar o quão pouco aprendeu sobre si; dando vida estrutural à sua insegurança, medo e crise identitária num só texto.

O nosso mundo natural se tornou caótico porque se estruturou – catedrático, impávido, tecnológico – sob factóides; como o da existência do bem e do mal. A maioria da literatura existencialista segue uma estrutura acadêmica prepotente, inacessível e restrita a  ¾ da população mundial, que consome existencialismo barato de novela, fast food, espiritismo e livros de auto ajuda.

Portanto, chego à óbvia conclusão de que não existe humanidade sem criação. As estruturas artificiais deveriam nos proteger do caos natural – de fato, fígado, moela e feijão – para podermos criar: filhos, logias, línguas, palavras, lágrimas e música. Na contemporaneidade, nos protege dos males inventados por nós mesmos e nos mantêm ignorantes.

Enquanto ser criador, intuí o texto acima com pitadas (também intuitivas) de baboseira psicanalítica – com todo o respeito à área. Desconsiderando as acusações de que eu seja um graduando em filosofia ou mesmo uma IA, acredito que consegui demonstrar in loco como um pensador pensa; ou deveria. Eu nego as estruturas desde já porque a urgência é imediata e a distopia já chegou. A gente precisa de segurança e intuição para, não só questionar, mas também provocar.

Considero que a estrutura corpórea é resquício das poucas estruturas naturais de fato que me restaram e anuncio ao mundo que escolho fazer arte. Deixo claro que nego símbolos e pontuações que podam a nossa potência e sinalizo que a escrita é um caminho impossível para a maioria. Quero neologismos e uma humanidade que aprenda a se amar, porque aprender é sobreviver. Quero dança, sociologia, cultura, psicologia e medicina em sua máxima potência criadora. Não faz mais sentido seguir hipocrisias e ignorar a dor comum e alheia sob prismas acadêmicos próprios de condomínio e trabalhos mecânicos. A revolução humana precisa ser a da informação irrestrita e ilimitada. Uma também responsável e comprometida com a busca e desenvolvimento do bem estar social. É preciso que a fluidez constitua todas as estruturas artificiais e por nós inventadas. Nós, divinos também.

Queremos questionar, aprender, sobreviver e criar. $em samba não dá.

Artista multifacetado, Igor Ferrer é natural de Salvador – BA, nascido em 1996. Inquieto, Ferrer canta, compõe, performa e atua. Possui formação interdisciplinar em Artes (UFBA) e participa de diversos grupos de teatro e música; recentemente, foi coralista na Orquestra Neojibá. Agora, tenta desembolorar os seus poemas mudos, guardados nas gavetas do Google Drive. Finge que tem uma assessoria para escrever suas biografias e vive na ludicidade da criança que não foi ensinada a crescer. Ao menos, tem consigo a poesia.

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