l
porque dentro de toda gente
há sempre um quê
que arrebenta
que arremessa
que arrebata
um quê de rio
um quê de dentro da gente
ll
gostava mesmo
era de ser falésia
moldada ao gosto dos mares
desmoronar
em
curso
lll
será para onde que vão as chuvas
em dia de pássaro?
lV
tão bonita é a palavra Maresia
nasce Mar
morre Poesia
V
fosse eu
apanhador de impossibilidades
algum tipo de deus ardiloso
eu seria você em noventa e três
isso! eu seria você
suas colisões todas
você em noventa e três
a moda a música a merenda
a aritmética sofrida
o subúrbio requintado
isso! sem dúvida
eu seria você
naquele tempo apenas
com seu canto periférico
com seu olfato medíocre
com o anel que envolve sua córnea
desse jeito mesmo
habitaria seu bairro
acolheria a vizinhança
abraçaria seu caos
e viveria seu dom
ah! fosse eu…
seria você
apenas em noventa e três
…
Cristina Parreira é casada há 13 anos e mãe de duas meninas, tem uma relação muito especial com a leitura e, consequentemente, com a escrita. Seus textos nascem a partir de inspirações do dia a dia. E de muita transpiração. Licenciada em Letras, é professora de Literatura, Gramática e Redação. “Sobre todos os Vãos” (editora Ases da Literatura) é seu primeiro livro de poemas.