Estival
Leme e coração
Jangada jogada ao longe
Da foz do rio que me ri
Singro uma água rasa
Arrasada de branco riscado e austral
O livre-arbítrio de barco à deriva
Me faz banal
O sonho da aurora boreal
Dentro de uma brisa magnética
Me faz insosso
Como a terra crua
De barro principiante
O ano bissexto
Que traz verões maiores
E invernos iguais de desejos
Navego e avanço
Pelo terral outono e manso
Caso raro dos mais comuns
No fútil da água fustigada
Escuto o branco sideral
Luz encoberta num enrolar de serpente
É assim
(E todo o corpo sente)
Todo dia tem eclipses lunares
Pra quem mora na tua carne solar
Paradoxo
Meu gato
Vai se chamar
Schrödinger
Escher num dia ruim
Subiu a escada
Para chegar
Onde já estava
Estorvo turvo
Cisco no olho
Pisco pra Deus
Oração de tarde irrevogável
Raro efeito
Pareço difícil
Mas é tudo artifício
De quem já morreu de amor
João Batista (JB) é poeta e jornalista, natural de Imaruí (SC), formado em Joinville e radicado em Balneário Camboriú. Atua há 15 anos no jornalismo e é autor dos livros de poesia “Os mesmos nós” e “Corpo fumegante”, além de assinar textos em coletâneas e crônicas e contos premiados. Desde 2016 é repórter do jornal Diarinho, em Itajaí.