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Um poema

Sou um poema de rimas pobres
cujos versos não formam estrofes
tropeço na escansão
troco os pés pelos metros
sei pouco de gramática
menos ainda de métrica
— mas não deixo de ser
um poema


Domingo à noite

você pegou a minha mão
para atravessar a rua
olhou para os dois lados
e corremos pela noite escura
ao chegar do outro lado
quis devolver a minha mão
não deixei


Pas de deux

Não há melhor tradução para o ato amoroso
que o pas de deux do Quebra-Nozes
um dedilhar de cordas suave
uma cosquinha gostosa
um crescendo gradual
preenchendo todo o peito
uma explosão de sopros
tingindo tudo em volta
uma revolução de sons
que pede repetição
os mesmos passos
de novo e de novo
até explodir
mais uma vez
e mais
e sempre


Fragmentos

Depois da herança distribuída
das roupas doadas
do armário esvaziado
sobram peças soltas

Um brinco sem par
um broche quebrado
um relógio parado

Fragmentos de um quebra-cabeça
para sempre incompleto

Cada vida abreviada
é uma narrativa inacabada


Hoje é o seu dia

Nada mais solitário
que apenas e-mails marketing
lembrarem do seu aniversário

Luiza Leite Ferreira é autora dos livros de poesia “É na cacofonia que eu me escuto” (Caravana, 2022) e “Amor Recreativo” (Patuá, 2023). Jornalista e mestranda em Estudos de Literatura pela UFF, atua como tradutora e revisora, integra o Coletivo Escreviventes, o portal Fazia Poesia e é curadora do clube de leitura Casa das Poetas. Escreve regularmente em luizaluiza.substack.com e leialuiza.wordpress.com.

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