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Sexta-feira. Vou me arrastando com as demandas do trabalho no modo “darei meu mínimo e esse será meu máximo”, tento ficar invisível para a minha chefe que não pode me ver sem fazer um pedido, não sou estrela-cadente, infelizmente. Meus olhos são atraídos pelo relógio torto e mal instalado na parede que marcam às 00h00, mas nunca às 11h30. 

Vou até a nova praça para fazer meu intervalo, sento-me e recebo grata a brisa do mar me preparando psicologicamente para voltar ao caos que chamo de trabalho dentro de 40 minutos. Retiro meu sanduíche saudável da térmica (ano novo, novos hábitos) quando dois carros estacionam próximos à calçada. Do carro da frente, salta uma mulher carregando uma mala e um equipamento que parece fotográfico – digo parece porque estou sem óculos- enquanto no carro de trás desce um homem sufocado em um terno nesse calor insuportável, acompanhado de uma bela mulher que se retira cuidadosamente sem amassar o vestido. O que segue é um ensaio pré-nupcial, ao que tudo indica.

A noiva descalça paira como uma borboleta sobre o gramado, certa de que está prestes a viver o melhor momento da sua vida, o que me fez pensar sobre o meu estado civil que mudou há um ano, quando eu desempenhava o mesmo personagem daquela moça.

A minha primeira reação seria gritar:

 –  Fuja louca! Ainda dá tempo! 

Mas que alma amargurada, que pessoa pessimista, pensei. Seria eu a pessoa capaz de alertá-la sobre o que seguiria? Não. Ela não deixaria de ser amada, só porque alguém não soube me amar. Não há nada que impedirá seu sofrimento se tiver que acontecer, nem ela mesma.

Pois bem, querida estranha, se eu pudesse te dar conselhos não solicitados, diria que aproveite cada momento de felicidade que puder ter. Esteja preparada para acertar e sobretudo para errar. Não se perca, desejo que vocês dois se tornem um só apenas na cama, mas nunca fora dela. Saiba que às vezes é preciso ceder, mas dentro das quatro linhas do campo do casamento. E também que você nunca perca a sua individualidade. 

Quando olho para trás, acho que no fim das contas não mudaria nada. E para aquele que um dia me amarrou nos laços do matrimônio, eu diria: obrigada pelas lembranças, mesmo aquelas que não foram tão boas. 

Pammela Gonçalves é assistente administrativa, professora de formação, graduada em Letras-Português. Escritora iniciante de crônicas e eventualmente poemas que podem ser lidos em seu Instagram (pamm___g). Explora temas como mulheres, sociedade e amores (não) correspondidos.

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