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Com uma protagonista tipicamente millennial, autora paulista explora a vontade de sair do roteiro em romance vencedor da primeira chamada de originais da editora Claraboia

“Minha mãe, então, continuou a recitar um sermão sobre a cerimônia, sobre a hora de dizer sim, sobre como é importante dizer sim primeiro para Deus. Porque é isso que um casamento é, uma união entre você, seu marido e Deus. Tive o impulso de rejeitar essa ideia, dizer chega, já não basta virar uma-metade, agora vou ter que virar um-terço?”

O percurso da pedra, de Camila Lourenço

A Claraboia — editora independente de escritoras mulheres — lança, em setembro, o primeiro romance publicado por meio de abertura para seleção de originais de prosa. A obra contemplada foi “O percurso da pedra” (162 pág.), da escritora paulista Camila Lourenço (@camilalourenço_), autora de “iô” (Selo Auroras). Primeiro romance em prosa da autora, a narrativa traz, com humor e ritmo vertiginoso, a história de Pérola, personagem que, de repente, deseja quebrar um roteiro de vida traçado para ela e por ela até ontem. 

“O percurso da pedra” vem para colocar Camila Lourenço como um dos nomes mais interessantes e versáteis da literatura brasileira contemporânea. Criado em cerca de quatro meses, durante mentoria de escrita com a escritora cearense Jarid Arraes, o livro é definido pela autora como seu grande  “e se eu desse uma de Belchior?”. “A escrita foi catártica, divertida, maluca. Eu parecia uma torneira aberta que não parava de jorrar”, conta. 

O quanto o desejo de uma mulher é verdadeiramente dela?

Viver os dias em modo automático e sem prestar atenção em quem somos e o que realmente queremos pode ser uma grande armadilha para os desatentos. Em “O percurso da pedra”, Camila Lourenço nos convida a refletir sobre as pequenas inquietações que podem se tornar a pedra que causa todo o deslizamento de quem somos.

Sentada em uma rodoviária e prestes a deixar para trás toda a vida que conhece até então, a personagem central da história, Pérola, uma advogada bem-sucedida, nos convida, por meio de seu fluxo de consciência, a questionar toda a construção de quem ela era antes de chegar ali. Consumida pelos próprios pensamentos depois de ganhar um livro erótico como presente inesperado, a personagem passa a contestar a autenticidade de seu noivado, da instituição do casamento, dos próprios desejos, de sua libido e de sua sexualidade.

As reflexões da personagem sobre o trabalho, as relações familiares, a vida e tudo o que gira ao redor dela nos arrebatam porque podem, facilmente, ser um espelho da nossa própria realidade. Afinal, o quanto o desejo de uma mulher é verdadeiramente dela e o quanto é resquício de um roteiro pré-escrito pela sociedade?

Numa espiral de lembranças encharcadas de humor e amargura, ela refaz o percurso da pedra. Examina, com cuidado e um cigarro apagado na mão, os ossos fossilizados em queda-livre — o noivado que engatinha para o grande dia, a carência da mãe. A desilusão com as planilhas e pastas de couro. A voz que quer gritar, mas não encontra quem a possa ouvir. Um tanto relutante e atônita, Pérola admite que foi um livro erótico e um dedo intrometido que empurraram a rocha morro abaixo, com a ajuda involuntária do cara da contabilidade.

O surto que nasce de uma suposta banalidade

Diferente de “iô”, obra anterior de Camila Lourenço, “O percurso da pedra” é uma história cotidiana e em prosa, que apesar de trabalhar temáticas como fuga, expectativas frágeis e frustradas, desejo e surto, faz isso com um um tom contemporâneo, o que torna a narrativa mais leve e fluida. A autora percebe respingos do humor autodepreciativo que os millenials gostam de esbanjar na construção da voz de sua protagonista, por exemplo. Apesar das muitas diferenças entre as suas duas obras, a autora faz questão de aproximar suas protagonistas: “iô e Pérola são duas mulheres que fazem o que quer. E de novo: o amor romântico não é o fim, mas o meio para elas se tornarem quem são.”

No novo livro, as principais influências de Camila são duas séries de TV e um poema: “Marvelous Ms. Maisel”, da mesma criadora de “Gilmore Girls”, que também influenciou a obra, e o poema “Cadarço” do russo Charles Bukowski. No caso dos seriados, o que chamou atenção da autora foi o ritmo acelerado, o humor intrínseco, e o fator “mulher-que-dá-uma-virada-na-vida” presente no Ms. Maisel. Já o poema tem a ver com uma obsessão que Camila Lourenço tem: o surto que nasce de uma suposta banalidade. 

Sobre a autora

Camila Lourenço de Souza (@camilalourenço_) nasceu em 19 de agosto de 1991 e foi criada em Sumaré, no interior de São Paulo. É letrista por graduação e escritora desde que aprendeu a ler. Começou a escrever seu primeiro livro aos 10 anos, em um caderno espiral que se esconde hoje entre outros tantos cadernos-diários. Já se aventurou pela fotografia, pelo design de interiores, e acabou se graduando em letras pela Unicamp. 

Autora de “Algodão cru” (publicação independente, 2020) e iô (editora Penalux, 2021), também participou das coletâneas “Meu coração não está de quarentena” (editora Psiu, 2020) e Entre janelas vol. ii (editora Oribe, 2020). “O percurso da pedra” é seu primeiro romance em prosa. Além de escrever, trabalha em uma multinacional de tecnologia. Nas horas livres, assiste a séries de qualidade duvidosa e devora livros de todos os gêneros. 

Confira outros trechos de “O percurso da pedra”:

“Eu disse meu amor, o coração de uma mulher não é um amontoado de farinha e manteiga que pode ser sovado pelo ego de um cara até ficar comestível.”  (Trecho da pág. 35)

“Mas que merda, né? Que merda é pensar que só a razão é transformadora, que emoções cruas e selvagens e tão humanas, são inferiores. Elas não são inferiores e eu não tive uma epifania. O que eu tive foi um orgasmo pensando no cara da contabilidade.” (Trecho da pág. 46)

“E quis que minha cabeça fosse um rádio que eu pudesse desligar. Mas ela me parecia mais com um rádio quebrado, sintonizando vinte e seis estações de uma só vez. Chiado e música e notícias e entrevistas e receitas de torta salgada e eu, no fundo, quase chorando e também quase rindo.” (Trecho da pág. 59)

Com uma protagonista tipicamente millennial, autora paulista explora a vontade de sair do roteiro em romance vencedor da primeira chamada de originais da editora Claraboia

com.tato – curadoria de comunicação

Assessoria de imprensa da editora Claraboia

Jornalistas responsáveis: Karoline Lopes e Marcela Güther

Contato: marcela@comtato.co ou (47) 9.9712-5394

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