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Quase

Muito perto da melhora
Mas muito longe do desejo

Muito perto do amanhã
Mas muito fincada ao passado

Muita vontade
Mas muita trava

Muito amor
Mas muita angústia

A sensação de “quase” se espalhando paradoxo do querer e agir.
Uma melhora eminente

Uma piora longínqua
que se enraízam no mesmo lugar
ao mesmo tempo.

É meu peito que sente.

E muito.


Fila de espera

“Sinto tua falta, né?”
Eu também sinto falta de mim.
O isolamento no escuro parece o melhor remédio
para uma alma sem cor.

Cortinas fechadas, coxia vazia.

Tentando pensar em como voltar para a vida que eu mesma criei.
A vida que tanto quis.
E que, agora, me sufoca.

Que agora me cobra.

Namorar, estudar, comemorar, trabalhar.
Verbos tão prazerosos no infinitivo,
que quando conjugados me dão medo.

Como fazer uma peça sem a protagonista?
Teatro vazio.
Assim como eu.

“Não posso, entrar no palco da minha vida me dá pânico”.
nsia de vomitar as dores.
Dor de estômago ao defecar os traumas.
Fadiga excessiva de existir.
Falta de apetite pela vida.
Tremedeiras nas cordas vocais.

Enjoo de mim mesma.

“200mg darão conta até quando?”
Não sei. Agora, já não dão.
Como tudo estava bom 20 dias atrás!

Teatro lotado comigo mesma me aplaudindo e rindo da vida.
Sorriso largo.
Abraços apertados.

Satisfação.

Hoje, são pequenos sons, voz baixa e fina.
Coração empoeirado e peito apertado.

Solidão.

Tudo isso em um intervalo de 20 dias.
Lembrei da música da Aretha Franklin que diz que um dia faz muita diferença.
(“É verdade”, disse a plateia).

Assim como as miligramas.
(“Assim esperamos”, disse quem já comprou o ingresso e espera sua vez).


(Me) vigiar e (não me) punir

Estou me escondendo do amor leve que apareceu.
A leveza tem pesado meu peito.
Se eu lembrar e relembrar as bigornas que carregava,
ao levar relações sozinha, eram de algodão.

Agora, tenho uma pluma que pesa toneladas.

Seria esse o peso do meu silêncio?
Não conseguir respirar afeto?
Apenas carregar dores no mudo?
Quando, de novo, com você posso voar?
A batida do meu coração segue afiada.
Rasgando meu peito, algemada nessa dor que me criminaliza.
Sinto que pago as penitências não ditas.

Numa prisão perpétua solitária,
que me faz sair correndo quando vejo a liberdade.
Quero voltar logo pro teu abraço,
onde meu coração se junta com o teu e, finalmente, adormeço.

Onde não sinto o peso de mais nada.
Onde somente ouço os sussurros das nossas almas.


O som do silêncio

Shhh!
Acho que descobri o aconteceu!
Fiquei com medo de perder o que era tão bom.

Me bloqueei para as dores.

Foi quase como congelar
o tempo para fugir dele.

Vai que a vida venha como
um barulho tão alto e estrague a melodia
dos sonhos que compus?

Tão logo
me bloqueei para a felicidade
e conquistas da idade.

Nossa!
Como o vazio é barulhento!

Neste momento,
escuto mais ele
do que o amor e o acolhimento.

(Barulho do vento)

Será que, aos poucos,
consigo aumentar o volume do afeto?
Ou ao menos
baixar o volume dessa
depressão pra poder sentir
a batida do amor mais de perto.

Andressa Lima é jornalista, mestranda em letras, afrogaúcha e de axé. Pesquisadora premiada, palestrante e autora publicada.

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